A orientação parental é uma das minhas paixões, desde muito nova sempre fui encantada com a maternidade e sempre vi como um sonho a ser realizado, mas apenas passei a refletir mais profundamente sobre ela quando me tornei uma mãe especial. Me refiro a especial, não por ter um filho autista e não por me achar mais especial que as outras mães, mas por ter tido a oportunidade de criar a minha própria identidade de mãe.
Essa minha identidade de mãe veio aos 28 anos. Uma gravidez linda, vivida intensamente, até que aos 4 meses de gestação algo estava de errado. Nisso veio o repouso, o nascimento prematuro, a UTI e a missão do meu primeiro filho cumprida em 6 meses na minha barriga e 4 dias fora dela. Isso já ressignificou muitas coisas não só da forma que eu lidava com as relações e o mundo, mas também como na minha identidade de mãe.
Depois veio o meu segundo filho, uma gravidez desde o início com muito cuidado, sabendo que seria de risco, repouso, nascimento prematuro, de novo a UTI até que por fim o Luan veio saudável para casa. Um menino lindo, muito desejado e esperado apesar de todos os medos e angústia passados. Um desenvolvimento típico até 1 ano e 2 meses quando começou apresentar os sinais que estava dentro do transtorno do espectro autista. Com 1 ano e 8 meses o diagnóstico e enfim, tudo parecia estar no seu lugar… Não me questionava um único minuto, pois tudo era o perfeito para a nossa vida.
Aquela identidade de mãe, se transformou, ahhhh como transformou, comecei a enxergar uma forma de relação que não tinha como ser na autoridade, no “poder” dos pais, na submissão dos filhos, naquela falta de olhar para a criança como se ela não precisasse de muito como os outros seres humanos, sabe aquela coisa de “ela pode ceder o lugar no sofá para o tio e sentar no chão, afinal é criança”, ou então “prometi algo, mas ela esqueceu, deixa para lá”, “eu posso sair escondido para ela não sentir muito”, “eu posso gritar para ela me obedecer”? Será? Eu faço isso nas minhas outras relações??
Enfim vários modelos que vemos na sociedade, desde coisas mais polemizadas nas redes sociais e até outras mais sutis que não percebemos foram colocados a prova. E isso não é mimar ou não educar, de maneira nenhuma. Mimar em alguns momentos faz parte, educar sempre, mas tudo isso faz parte do processo de respeitar a criança como ser humano único.
Toda essa história para contar como entrei (apesar de que já me achava dentro rs) na relação parental responsiva e passei a estudar e ver a importância de tudo isso. Não é óbvio já que não é a visão a qual estamos habituados a utilizar, mas ela é a forma mais prazerosa da maternidade/paternidade que fará uma criação e a construção de identidade dos seus filhos.